Morreu no início da tarde desta terça-feira(9), aos 93 anos de, José Saldanha Menezes Sobrinho, ou simplesmente Zé Saldanha, como gostava de ser chamado.
Zé Saldanha era o cordelista mais velho em atividade no Rio Grande do Norte e um dos poucos da sua idade exercendo a Literatura de Cordel no Brasil.
Nascido e criado na Fazenda Piató, em Santana dos Matos, mudou-se várias vezes de casa com a família até fixar residência em Natal, mas nunca deixou de ser um matuto sertanejo, ligado as suas raízes.
Zé Saldanha deixou mais de 200 livretos de cordel, livros em prosa, e era um dos únicos cordelistas que ainda mantinha a tradição de publicar anualmente almanaques (livretos onde o cordelista faz previsões sobre o tempo, fornece orientações e informações agrícolas, folclóricas e religiosas baseadas no senso comum), tendo sido citado em inúmeras antologias de cordel.
Zé Saldanha era também o único representante do Rio Grande do Norte na conceituada coleção “Projeto Biblioteca de Cordel”, coordenada pelo escritor Joseph Luyten, da editora paulista Hedra.
Zé Saldanha contava que resolveu montar uma sapataria e empregou muita gente. Nesta sapataria, o poeta colocou seu sobrenome, “Calçados Menezes” e dentro das caixas de sapatos, Zé Saldanha colocava uma propaganda que dizia: “Para comprar calçados eu aviso aos meus fregueses/ eu ando de pé descalço, semanas, dias e meses./ Fico até de pé rachado, porém só compro calçados, dentro da fábrica Menezes”.
Zé Saldanha usava seus versos porque naquele tempo não tinha televisão e poucos possuíam um rádio.
Sua reportagem em poesia mais famosa foi a partir de um acidente em Currais Novos, que vitimou 25 pessoas na região.
O acidente aconteceu pela manhã e, à tarde, num local onde não havia nenhum meio de comunicação, Zé Saldanha já tinha um folheto pronto chamado “A verdadeira história do monstruoso acidente em Currais Novos”, contando toda a verdade sobre o acidente. Na época, mais de quatro mil exemplares do cordel foram vendidos.
Além de poeta cordelista, Zé Saldanha criou a Associação Estadual dos Poetas Populares do Rio Grande do Norte (AEPP), em 1975, agregando repentistas, emboladores de coco, aboiadores, glosadores e poetas de cordel, entre outros artistas.
Além disso, em 1979, travou batalha junto ao Ministério do Trabalho pelo reconhecimento da profissão de poeta popular, visando a conquista de direitos trabalhistas para a categoria. Em 1993, foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira dos Estudos do Cangaço (SBEC) e, atualmente, era membro da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN.
Confira um dos poemas de Zé Saldanha:
Matuto no Carnavá
Matuto é matuto mesmo
É matuto de verdade.
Que diabo qu’é matuto
Se enfiando na cidade?
Brincando inté carnavá!
Eu brinquei mas me dei má,
Num conto nem a metade!
(...)
Ela perguntou baixinho:
Você tem algum dinheiro?
Eu disse: Tenho, pru quê?
Ela respondeu ligeiro:
Então me dê preu guardá,
Prus ladrão não lhe robá,
Que aqui só tem marreteiro.
Foi pegando meu dinheiro,
E tratando de correr.
Como quem ia guardá,
Mas se virou prá dizer:
“Qué qui pensa matutão?
Eu num sou Maria não.
Sou Machão qui nem você!”
Matuto é matuto mesmo
É matuto de verdade.
Que diabo qu’é matuto
Se enfiando na cidade?
Brincando inté carnavá!
Eu brinquei mas me dei má,
Num conto nem a metade!
(...)
Ela perguntou baixinho:
Você tem algum dinheiro?
Eu disse: Tenho, pru quê?
Ela respondeu ligeiro:
Então me dê preu guardá,
Prus ladrão não lhe robá,
Que aqui só tem marreteiro.
Foi pegando meu dinheiro,
E tratando de correr.
Como quem ia guardá,
Mas se virou prá dizer:
“Qué qui pensa matutão?
Eu num sou Maria não.
Sou Machão qui nem você!”
Um comentário:
Vamos continuar divulgando o nosso poeta...nossa cultura...nossas raízes...o nosso poeta mais antigo, que ficou mais tempo em atividade no Brasil, pois aos 93 anos estava em plena atividade, considerando que escrevia todos os dias e publicou seus trabalhos durante 76 anos...
vamos imortalizar seus cordeis,
visitem, divulguem o site www.bit.ly\zesaldanha, leiam suas poesias e escutem a sua voz, ele nosso patrimônio imaterial, é do Rio Grande do Norte é do Brasil.
Reneide Saldanha
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