Quando voltar do período sabático a que se auto-impôs em São Paulo, a ex-governadora Wilma de Faria (PSB) vai se deparar com um verdadeiro dilema shakespeariano: ser ou não ser candidata ao Senado? A incerteza sobre o destino político da socialista ganhou nova proporção na última semana, com a deflagração de um novo movimento – comandado por aliados e incentivado à distância por adversários – para tentar convencê-la a trocar a disputa pelo Senado pela eleição de deputada federal.
Wilma está sob intenso bombardeio para rever seus planos eleitorais. O pleito do Senado promete ser um embate sangrento, uma vez que há apenas duas vagas em jogo para três titãs da política potiguar. Além de Wilma, os atuais senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB) e José Agripino Maia também estão no páreo.
A pergunta que é feita em cada recanto do Rio Grande do Norte, sussurrada nos bastidores políticos e repetida nos corredores do poder é a mesma: quem vai ficar sem mandato em 2010? O final deste duelo é imprevisível.
Antes de renunciar ao cargo de governadora, Wilma já era alvo de especulações sobre sua real disposição de lançar-se numa empreitada tão arriscada. Dizia-se que, na última hora, ela desistiria do embate e se candidataria a deputada federal – missão considerada bem mais segura, que lhe asseguraria uma cadeira no Congresso Nacional.
Wilma, porém, bateu o pé e, a despeito das pesquisas que até então a colocam em desvantagem, continuou sustentando que seria candidata a senadora. Mas não é só isso. A peessebista tem repetido que será a candidata mais votada, desdenhando do suposto favoritismo dos seus adversários diretos.
A ex-governadora parece ter incorporado como nunca o apelido que a acompanha há anos e que virou quase um sobrenome – “guerreira”. Wilma se pintou para a guerra e dá sinais de não ter medo do enfrentamento das urnas. Está segura que a população saberá reconhecer os feitos das suas duas administrações à frente do governo.
Apóia-se num dado histórico: todos os ex-governadores que se candidataram ao Senado no RN obtiveram êxito na jornada. Até mesmo o impopular Geraldo Melo, que deixou o poder sob intenso desgaste, fruto do atraso no pagamento dos salários do funcionalismo público.
A eleição deste ano, porém, guarda uma peculiaridade que a distingue de todas as demais. Pela primeira vez, os três protagonistas da política potiguar dos últimos 20 anos vão se enfrentar nas urnas em busca do mesmo cargo. Esse é o principal componente desta disputa que tem tudo para ser nitroglicerina pura.
A operação
A pressão para convencer Wilma de Faria a disputar o mandato de deputada federal vem de todos os lados. Os adversários observam tudo a uma distância prudente, mas mandam seus emissários dizerem aos seguidores da socialista que concordam com a estratégia. Na base governista, interlocutores mais próximos aconselham a ex-governadora a considerar a tese da desistência do Senado.
O bombardeio contaria, inclusive, com a participação do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB. O neto de Miguel Arraes teria sido acionado para intervir com Wilma de Faria. Mas a ordem entre os socialistas é tratar do assunto com muita cautela, para melindrar a ex-governadora.
O argumento usado para tentar vencer a resistência de Wilma é que essa seria a única maneira de segurar o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB) na base governista e, por tabela, atrair Garibaldi para o palanque do governador Iberê Ferreira de Souza (PSB), pré-candidato à reeleição. A tática acomodaria todos os interesses em jogo e resolveria o problema da eleição de Garibaldi e de Agripino.
Depois que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) amarrou as coligações proporcionais às majoritárias, proibindo a união entre partidos que não estejam no mesmo arco de alianças, as estratégias eleitorais que vinham sendo desenhadas no RN foram por água abaixo.
O maior complicador é o PMDB, rachado ao meio em razão da divergência entre Henrique e Garibaldi. Como os líderes defendem candidaturas diferentes, o partido decidiu não oficializar apoio a nenhuma delas. O problema é que a legenda corre o risco de ficar isolada, o que colocaria em risco tanto a eleição de Henrique quanto a de Garibaldi.
Henrique disse aos companheiros da base governista que não vai colocar a própria eleição em risco. Ele articula uma aliança paralela com o Partido da República (PR) e o Partido Verde (PV) para a disputa proporcional, mas não descarta a possibilidade de aderir à candidatura oposicionista da senadora Rosalba Ciarlini (DEM).
Presidente estadual do PMDB e líder da bancada em Brasília, Henrique alimenta o sonho de ser presidente da Câmara dos Deputados. Para tanto, trabalha pela indicação do atual presidente da Casa, Michel Temer (SP), para a vaga de vice na chapa da ex-ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata do PT à Presidência da República.
A ida para a oposição no Rio Grande do Norte provocaria constrangimentos no plano nacional a Henrique, tendo em vista que o deputado é um dos interlocutores mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ficaria difícil para o peemedebista explicar tamanho paradoxo: integrar a base lulista em Brasília e, ao mesmo tempo, subir no palanque do DEM no RN.
Henrique tem se mostrado claramente incomodado com esta hipótese, mas em nome da sobrevivência política admite que poderá ser obrigado a engolir o sapo. Agora, o peemedebista faz figa para que Wilma de Faria aceite a alternativa de concorrer ao mandato de deputada federal. Dessa forma, acredita que tudo se arranjaria sem maiores traumas.
Alisson Almeida
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