
Toma corpo Brasil a fora a ideia absurda da
unificação das eleições. E, o que é pior, em um momento como esse, no qual –
repleto de dificuldades de toda ordem – o Brasil enfrenta um tempo de escuridão
política, marcado pela ausência de mentes lastreadas ética e moralmente para a
discussão dos temas que envolvem a vida nacional. É exatamente numa pedreira
dessas que se observa prosperar um projeto de consequências tão desastrosas. Do
ponto de vista da argumentação, pelo menos até o presente momento, nenhuma das
cabeças que defendem as tais eleições unificadas conseguiu ultrapassar o
terreno da mediocridade retórica e da pobreza política. Ora,
analise-se uma das colocações que fazem os tais: de que as eleições de dois em
dois anos estão se tornando caras demais para o Brasil. Pelas barbas do
profeta!!!!!!, como diria aquele narrador esportivo. E, por acaso, o processo
eleitoral é o culpado disso? O culpado, além dos homens de
mente corrompida, e sem estatura moral para se fazer presente à qualquer tipo
de disputa, é o sistema eleitoral corruptor e caro em si mesmo. Culpada
é a Justiça Eleitoral que demora até dez anos para julgar as questões que
emergem da disputa eleitoral – um atraso que só incentiva a transgressão e a
impunidade. Além do mais, ao invés de se celebrar um processo
democrático que se renova e se fortalece a cada dois anos, joga-se no colo do
processo eleitoral o custo das eleições no Brasil. Que, além de caras,
reconheçamos, carregam penduricalhos esdrúxulos, como as coligações partidárias
e o famigerado coeficiente eleitoral.
Por acaso, esses tais, que defendem a unificação,
já pararam para analisar o verdadeiro caldeirão de safadezas e malfeitos que se
apoderou do processo político brasileiro por conta das coligações partidárias?
É quase certo, certíssimo, não chegaram a tanto. Outro perigo que ronda
as eleições é a mania de se promover a extinção pura e simples das instituições,
ao invés de se condenar os malfeitores que nelas se instalaram.
Lembram-se da Sudene?
Envolvida na onda da corrupção, viu-se tragada pelo
torvelinho da extinção porque, aos olhos dos dirigentes, era mais fácil
passar-lhe a régua do que condenar quem lhe raspara o cofre. Vê-se, assim, que
o negócio é matar o animal ao invés de curar-lhe a doença.
E a história de que há eleições demais?
No parlamentarismo, eleições podem ocorrer de seis
em seis meses, de ano em ano. Basta que o Parlamento aprove um voto de
desconfiança que o governo cai e novas eleições são convocadas. Na Alemanha, no
Japão, países de democracia sedimentada, de eleições parlamentares de quatro em
quatro anos, já houve casos de eleições sucessivas em curtos períodos pela busca
de soluções governamentais – à luz da democracia. Enquanto isso, no
Brasil, onde a democracia tem pouco mais de três décadas, debiloides de plantão
diagnosticam que o país tem eleições em demasia. É de lascar! Na verdade, o que
o Brasil precisa é de uma análise séria, profunda, em seu sistema eleitoral que
desague numa reforma política com início, meio e fim. E
com uma Justiça Eleitoral ágil, um Ministério Público ainda mais atuante – e
uma legislação que puna com rigor quem incorrer em malfeitos. Porém, caso venha
a unificação (Deus nos livre!), como ficará o debate numa disputa na qual o
eleitor terá de optar de vereador a presidente da república? E que espaço
sobrará para a discussão de temas municipais diante da complexidade das
questões estaduais e federais? Jogar-se o debate de problemas
municipais para as calendas é democrático? Em busca de economia, extirpa-se o
ente municipal do debate?
Pobreza mental, cara pálida. Mental.
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