A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, no ano que vem,
será ancorada por um tripé de apelo popular, “traduzido” pelo Palácio do
Planalto como “energia/comida/juros”. A um ano e meio da disputa, o
marketing eleitoral dita a agenda da presidente e vai embalar o programa
do PT, a ser exibido em rede nacional de TV no dia 9 de maio.
Divulgação
Cortes de impostos, queda dos juros e redução da conta de luz terão
destaque no cardápio petista para o segundo mandato de Dilma, se tudo
correr como o script previsto pelo Planalto. A estratégia é mostrar que a
desoneração dos produtos da cesta básica, a tesourada nos juros, hoje
em 7,25% ao ano, e a diminuição do preço da energia elétrica fazem parte
de um pacote para promover a distribuição de renda e transformar o
Brasil em um país de classe média.
Dilma avalia que já tem marcas próprias de governo para
exibir na propaganda eleitoral, além dos projetos herdados do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela tem conversado com o
ministro da Educação, Aloizio Mercadante, sobre a evolução do modelo
que, a seu ver, criou um mercado de massas a partir de um “ciclo
virtuoso”, com aumento dos investimentos, do emprego e do crédito.
“Esse tripé dará as condições para a consolidação da imagem
de Dilma e a manutenção da vantagem dela na eleição de 2014”, afirmou o
deputado Paulo Teixeira (SP), secretário-geral do PT.
A última pesquisa Ibope, feita em parceria com o Estado,
confirmou o resultado de sondagens encomendadas pelo marqueteiro João
Santana, consultor de Dilma, e reforçou a estratégia presidencial.
Realizado entre os dias 14 e 18 deste mês, o levantamento indicou que as
aparições de Dilma na TV, anunciando cortes de impostos e tarifas,
renderam a ela nove pontos a mais desde novembro.
Se as eleições fossem hoje, a presidente venceria no primeiro
turno. Na pesquisa Ibope, ela tem 76% de potencial de voto, o que
representa um eleitorado três vezes maior do que a soma de todos os seus
adversários.
“O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), não
conseguiu dividir a base aliada e está piscando para a oposição”,
ironizou o secretário-geral do PT, numa referência ao possível rival de
Dilma, em 2014. “Eu não vou entrar nesse rame-rame eleitoral agora”,
garantiu Campos. “Cada um tem o seu relógio.”
Em conversas reservadas, o governador tem dito não confiar
que o PT apoie uma candidatura sua em 2018, caso ele desista da
empreitada presidencial do ano que vem. Para Campos, apesar da alta
popularidade de Dilma, o que pode atrapalhar a reeleição é justamente a
economia.
Transportes. Com previsão de cenário mais
otimista no segundo semestre, a equipe econômica prepara novo pacote de
desonerações para conter a inflação, desta vez com foco no transporte
público. As medidas incluem o corte do PIS e da Cofins sobre o óleo
diesel e, apesar de terem impacto municipal, estão na lista das
“bondades” que o Planalto quer faturar na campanha.
A expectativa é que a diminuição desses tributos evite a alta
das tarifas de ônibus em capitais como São Paulo e Rio. “Técnicos da
Fazenda já avaliam que o reajuste da passagem de ônibus incide mais
sobre a inflação do que o aumento da gasolina. Logo, o que se discute é a
ideia de aumentar a gasolina e mandar o dinheiro para o transporte
público, como forma de subsídio cruzado”, disse o secretário dos
Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto.
O governo corre para que o anúncio da desoneração do PIS e da
Cofins seja feito no Dia do Trabalho, quando Dilma usará o tradicional
pronunciamento de 1.º de Maio para comemorar a aprovação da proposta de
emenda à Constituição que amplia direitos das empregadas domésticas.
No quesito transporte, o PT também aposta na modernização da
infraestrutura, com obras em rodovias, ferrovias e aeroportos, para
“vender” a imagem de Dilma como boa gestora, apesar das dificuldades
para os projetos saírem do papel.
O programa nacional do PT, em 9 de maio, e as inserções
comerciais na TV, alguns dias antes, vão representar, na prática, a
largada da corrida pela reeleição no horário político.
Não foi à toa que Santana produziu o slogan “O fim da miséria
é só um começo”, usado pela presidente em fevereiro, quando ela
anunciou que 22 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza. A
ideia é mostrar, na campanha, que as principais ações de Dilma agem como
alavanca para o crescimento e para o ingresso do Brasil no seleto mundo
dos países desenvolvidos. “Com a economia andando bem, tchau para o
gaiteiro”, resumiu o senador Delcídio Amaral (MS), pré-candidato do PT
ao governo do Mato Grosso do Sul.
Traição. A preocupação política do Planalto,
agora, reside na montagem dos palanques para Dilma. Por enquanto, a
meta do PMDB é lançar candidatos próprios em pelo menos 20 dos 26
Estados, além do Distrito Federal. Em muitos deles, como o Rio, o PT e o
PMDB estão em pé de guerra e há outras praças onde as desavenças
prosperam - caso do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.
“Seria muita traição, depois de tudo o que Lula e Dilma
fizeram por Sérgio Cabral e Eduardo Paes (governador e prefeito do Rio,
respectivamente), o PMDB do Rio condicionar o apoio à presidente à
retirada da minha candidatura”, reagiu o senador Lindbergh Farias
(PT-RJ).
Pré-candidato do PT ao governo fluminense, Lindbergh foi
acusado, em reportagem da revista Época, de envolvimento em corrupção
quando era prefeito de Nova Iguaçu. O material foi obtido com o PMDB.
Cabral tenta emplacar a candidatura do vice-governador Luiz Fernando
Pezão (PMDB) e quer a desistência de Lindbergh, que nega com veemência a
veracidade das denúncias. “O PMDB me jogou na oposição. Por que Geddel
(Vieira Lima) pode ser candidato do PMDB na Bahia e eu não posso
concorrer pelo PT no Rio?”
Para o senador Valdir Raupp (RO), presidente do PMDB, a
pergunta deve ser feita no sentido inverso. “Por que o PMDB tem de
apoiar o governo em todos os Estados e o PT não pode abrir mão de
nada?”, devolveu Raupp. No Planalto, o comentário é que, resolvidas
essas pendências do PT com os aliados, “o resto vem por gravidade”.
* Estadão
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