O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, descartou ontem que exista em Minas Gerais uma tendência de voto conjunto na presidenciável do PT, Dilma Rousseff, e no candidato do PSDB a governador, Antonio Anastasia. A dobradinha vem sendo chamada pelos mineiros de “Dilmasia”. “Claro que não acredito nisso. É apenas um lance eleitoral, sem base nenhuma”, disse em entrevista à Rádio Jovem Pan AM, em São Paulo. Serra caçoou do apelido dado à suposta chapa: “Dilmasia parece nome de doença, azia do estômago ou neoplasia.”
clayton de souza/ae
Serra conversa com eleitores e procura evitar a discussão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Para o presidenciável, o ex-governador de Minas Aécio Neves (PSDB) assegurou que apoiará a candidatura Serra. “Ele foi claríssimo: ficará inteiramente do nosso lado”, disse o paulista Mesmo assim, Serra evitou comentar a possibilidade de ter Aécio como vice na chapa presidencial. “É um assunto em relação ao qual não vou me manifestar nas próximas semanas. Tenho outras prioridades”, afirmou. “Aécio tem dito que prefere o Senado. Sua decisão será sempre respeitada.”
O tucano disse não ter medo da comparação proposta por Dilma entre os governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele acredita, no entanto, que o paralelo é “meio sem cabimento”. “Não tenho medo, mas não dá para comparar duas coisas que se sucederam. Uma até aproveitou coisas da anterior. É outro período, outra situação. Você tem de comparar os problemas do futuro.”
Com esse raciocínio, Serra tentou afastar Lula do embate destas eleições. Recordista de popularidade, o presidente tenta colar sua imagem em Dilma. “Lula não é candidato, nem FHC, nem (Fernando) Collor, nem (José) Sarney, que apoiam Dilma”, disse. “Os candidatos são pessoas que não foram ainda presidentes, como Marina (Silva, do PV), Dilma e eu. Vamos ter de discutir o futuro, quem tem mais condição de tocar o Brasil.” Serra se disse “intrigado” com o tratamento dado pelo PT a Fernando Henrique. “Ex-presidentes aliados da Dilma são bem tratados, mas quando não são aliados são muito criticados.”
Serra disse temer que haja “baixaria” nesta campanha e afirmou que pretende manter uma “relação cordial” com os adversários. “Tenho temor de que tenha baixaria e esperança de que não tenha. Da minha parte não vem.” Para o tucano, já há gente fazendo “apologia do medo”. “A ideia é de que ou é essa a solução para a eleição ou o País vai para a ruína. Não vejo que nenhum dos candidatos possa causar medo no Brasil. Isso é fazer terrorismo.”
O tucano mostrou-se preocupado com a disseminação de boatos por meio da internet. “É muito fácil atacar reputações, dizer qualquer tipo de bobagem a respeito de alguém. Tudo o que entra na internet vira eterno.” Mesmo assim, disse acreditar no peso da web neste pleito. “Meu Twitter caminha para ter, nos próximos meses, o dobro dos 190 mil seguidores que tem hoje”, disse sobre o perfil que mantém há um ano na rede de microblogs
A respeito da sucessão para o governo de São Paulo, Serra apontou o ex-governador Geraldo Alckmin como candidato do PSDB. “Candidaturas têm de ser colocadas naturalmente, pelo sentimento geral. Sem a menor dúvida, Alckmin está credenciado para o Estado.”
Petistas reagem a discurso do PSDB
Brasília (AE) - O discurso do pré-candidato tucano à presidência da República, José Serra, incomodou a coordenação da campanha da adversária, a petista Dilma Rousseff. Em reunião ontem com a ex-ministra, a coordenação avaliou que as afirmações de Serra sobre divisão do País, feitas durante o discurso da solenidade de lançamento de sua pré-candidatura, no sábado passado, não deveriam ficar sem resposta. Logo após a reunião, coube ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT), externar a reação, acusando o tucano de “desonestidade política” e de “arrogância”. Dilma e os coordenadores da campanha petista consideraram que o adversário Serra passou dos limites e subiu o tom quando falou que Lula divide o País.
“É uma desonestidade política acusar Lula de estar dividindo o País. O Brasil se unificou nacionalmente e mundialmente com Lula. As pessoas têm de ter cuidado para não cair na demagogia”, disse Vaccarezza. “É muita arrogância alguém ter apenas três partidos, médios e pequenos, e falar em unidade”, continuou o petista, referindo-se aos partidos que manifestaram apoio à candidatura Serra pelo PSDB - DEM e PPS. “Nós temos a maioria”, disse Vaccarezza. Declararam apoio a Dilma, até agora, o PMDB, o PDT, o PR, o PCdoB, além do PT. O PT e o PMDB são os dois maiores partidos do País.
No discurso que provocou reação dos petistas, Serra afirmou, sem citar nominalmente o presidente Lula ou o governo petista, que “quer ser o presidente da união” e que “o Brasil não tem dono.” “De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres”, disse o ex-governador. “E é deplorável que haja gente que, em nome da política, tente dividir o nosso Brasil. Não aceito o raciocínio do nós contra eles”, declarou Serra. “Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo.”
Em outro ponto do discurso, Serra afirmou: “Às provocações, vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em dividir a nação, vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles O Brasil não tem dono.”
Tucano assegura continuidade dos programas
Diante de acusações de adversários de que, se eleito, eliminaria programas do governo Lula, como o Bolsa Família, o ex-governador de São Paulo José Serra afirmou que tem o costume de manter as “coisas boas” de seus antecessores. “Governar é pegar o que seu antecessor estava fazendo de positivo, continuar e turbinar”, disse e citou que, quando prefeito de São Paulo, manteve criações de Marta Suplicy (PT), como o Bilhete Único e os Centros Educacionais Unificados (CEUs).
Questionado se, em um eventual futuro governo, chamaria o PMDB para compor sua equipe, Serra evitou comentar o assunto. “Eu faria um governo de soma, com os setores políticos que estiverem de acordo com nosso programa e nosso estilo de governar. Eu não loteio o governo.” O diretório nacional do PMDB apoia a candidatura de Dilma, mas há divergências nos Estados a favor de Serra.
Serra prometeu, se eleito, fazer “para ontem”, programas habitacionais para tirar moradores de áreas de risco no País todo e evitar tragédias como a ocorrida na semana passada em Niterói (RJ). Deu como exemplo a remoção feita pelo governo paulista de famílias da Serra do Mar, em São Paulo.
Na área da segurança, o presidenciável defendeu mudanças na legislação para dificultar mecanismos de redução de pena. Citou como exemplo o caso de Guilherme de Pádua, condenado pelo assassinato da atriz Daniela Perez. “Esse cara não tinha que estar solto”, afirmou. “O Brasil tem legislação frouxa e impunidade. Precisa de uma ação firma da polícia, de assistência judiciária às vítimas e de mudanças na legislação.”
AB.
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