Principais atingidos pela reforma do ensino médio, estudantes têm
muitas dúvidas sobre a medida provisória que institui o Novo Ensino
Médio. Eles concordam que a etapa de ensino precisa de melhorias e
apontam a formação dos professores e o diálogo como os principais
caminhos. Após a publicação da MP 746/2016, a Agência Brasil conversou com alguns estudantes de escolas públicas e particulares.
“Vão retirar disciplinas? Eu sou contra. São conteúdos como sociologia
e filosofia que estimulam o pensamento crítico. Eu vou poder escolher o
que vou estudar? Vão ter várias opções de ensino técnico? Se forem
poucas, não vai adiantar”, diz Jonathan Alves de Oliveira, 18 anos,
estudante do 2º ano do Centro de Ensino Médio Setor Oeste, escola
pública de Brasília.
Jonathan se descreve como interessado e alguém que aprende fácil.
Atualmente, aluno do ensino médio noturno, diz que deixou o diurno
porque não conseguia se concentrar. “É muita confusão, os estudantes são
muito desinteressados, os professores ficam estressados”, diz.
A reforma ganhou destaque após a divulgação dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), que mede a qualidade do ensino no país. Pelo segundo ano
consecutivo, a meta estabelecida para o ensino médio não foi cumprida e a
etapa está estagnada desde 2011. Uma reforma já está em tramitação na
Câmara dos Deputados, por meio do Projeto de Lei (PL) 6480/2013. O
governo justifica a edição de uma MP como forma de dar agilidade ao processo. Agora o Congresso terá 120 dias para decidir se aprova a medida.
Professores
“O ensino médio é cansativo e desinteressante. Parece que tudo na sala
de aula fica desinteressante, muita gente larga porque é chato”, diz
Marcos Fabrício da Silva, 18 anos, estudante do 2º ano do Setor Oeste.
Segundo ele, o professor faz toda a diferença. “Quando o professor tem
uma boa didática, tem intimidade com os estudantes, ele consegue dar uma
ótima aula. A formação do professor faz toda a diferença”, acrescenta.
Atualmente, o ensino médio tem 8 milhões de alunos em escolas públicas
e privadas. Segundo o Ministério da Educação, enquanto a taxa de
abandono do ensino fundamental foi 1,9%, a do médio chegou a 6,8%. Já a
reprovação no fundamental é 8,2%, frente a 11,5% no ensino médio.
Marcos foi um dos que largou o ensino médio por dois anos, por
desinteresse. Voltou a estudar para buscar uma vaga no ensino superior,
quer cursar comunicação social. “Tem aulas que o professor só nos faz
copiar, não tem debate, não tem diálogo, isso é ruim. Por outro lado,
têm professores que te fazem aprender e você não esquece mais. Os
professores são mais importantes que toda uma reforma”, diz. Ao lado do
colega, Jonathan concorda que o aprendizado depende dos professores.
Pesquisa divulgada essa semana mostrou que os jovens não estão satisfeitos
com as escolas brasileiras. O descontentamento envolve aulas e material
pedagógico e apenas um em cada dez estudantes de 13 a 21 anos diz estar
satisfeito na avaliação desses quesitos.
A insatisfação com o atual cenário e com a forma como gestores conduzem a educação, aliadas a uma busca por maior participação, levou dezenas de jovens em várias cidades a ocuparem suas escolas.
O anúncio de uma reforma por meio de medida provisória foi vista como
uma imposição a quem está na ponta: “Acho bastante preocupante e um
retrocesso uma reforma ser feita dessa forma”, diz Luiz Felipe Costa, de
19 anos, estudante do 3º ano, da Escola Estadual de Ensino Médio
Arnulpho Mattos, no Espírito Santo, que participou das ocupações no
estado.
“Hoje o ensino médio é velho e falido, não contempla os estudantes. Eu
acho importante fazer uma reforma, mas isso deveria ser amplamente
debatido”, acrescenta.
Decisão difícil
A MP torna a carga horária mais flexível e dá maior autonomia aos
estados para decidirem a organização da rede. De acordo com a medida,
1,2 mil horas, metade do tempo total do ensino médio, serão destinadas
ao conteúdo obrigatório definido pela Base Nacional Comum Curricular,
que ainda será discutida.
No restante da formação, os alunos poderão escolher seguir cinco
trajetórias: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências
humanas – modelo usado também na divisão das provas do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) – e formação técnica e profissional.
Para Cecília, 16 anos, estudante do 2º ano do Centro Educacional
Sigma, escola particular de Brasília, decidir que ênfase se quer dar aos
estudos pode ser difícil para estudantes ainda em formação. “Eu sou
muito indecisa, imagina ter que decidir isso. Não gostei da proposta”,
diz.
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